a black and white photo of a person on a surfboard

Teatro

O repertório teatral desenvolvido pelo coletivo En La Barca é norteado pelo conceito de “Jornadas” presente em nosso nome. “Jornada” tanto como movimento quanto como marcha. Caminhos artísticos que se entrecruzam com desdobramentos políticos. Produções independentes que se ligam por ciclos de criação de projetos e pesquisas temáticas escolhidas coletivamente. Nossas primeiras jornadas teatrais criadas entre 2014 e 2016 foram norteadas por uma busca de identidade artística ancoradas na manutenção de um treinamento físico regular. A descoberta da tradição documental em 2016 nos deu o horizonte da construção de um projeto artístico de longo prazo. Em paralelo, a difícil busca de articular, nesses primeiros anos, um diálogo entre um enorme conjunto de referências europeias ligadas a tradição do Teatro Documentário com o desejo de criar em nossos projetos uma inequívoca assinatura artística ligada a teatralidade popular latino-americana. Ao mergulhar no caldeirão artístico e político que estruturou as bases da tradição documental como conhecemos, não queríamos perder a identidade latino-americana das temáticas que abordamos.

Partindo do princípio de um Teatro de Intervenção, onde qualquer espaço social possa desempenhar a dupla função de um espaço também teatral, chegamos a um conceito norteador que chamamos de Princípio Assembleia. Um espaço de debates políticos e sociais cuja centelha é acendida por uma intervenção teatral que preserva as especificidades arquitetônicas, históricas e sociais de cada espaço e coloca esses elementos em diálogo com uma criação teatral construída a partir de técnicas específicas. Brecht dizia que “as técnicas que servem para aclarar a realidade, não são as mesmas técnicas que servem para esconder a realidade”. Este entendimento nos permite pensar que uma escolha técnica não diz respeito apenas a uma afinidade artística. Se cada técnica é carregada de um conteúdo ideológico a escolha de determinadas técnicas artísticas também é política.

Entre tantas reflexões, algumas delas ainda incompletas e em curso; é importante ressaltar um dado simples: Nós fazemos teatro popular. Na forma e no conteúdo.

CONHEÇA NOSSAS JORNADAS TEATRAIS

Um Homem Sem Importância

UM HOMEM SEM IMPORTÂNCIA é o primeiro projeto documental do coletivo teatral En La Barca. Originalmente criada em 2016 como exercício narrativo, o trabalho se apresentou em mais de 30 escolas, sindicatos e associações entre 2016 e 2018, com atuação destacada no movimento de ocupação das escolas públicas de 2016. A transformação do exercício documental em peça teatral acontece em 2024 em uma novíssima versão para uma circulação comemorativa que homenageia o dramaturgo Plínio Marcos no marco dos 25 anos de sua morte, além de celebrar os 10 primeiros anos de atividades do coletivo En La Barca.

A dramaturgia do trabalho é completada com manuscritos de Oduvaldo Vianna Filho – Vianinha, outro dramaturgo brasileiro que esteve no centro da resistência teatral a ditadura. O trabalho resgata a memória de um período cada vez mais desconhecido e narra os desafios enfrentadas por toda uma geração do teatro brasileiro, a partir da trajetória e das narrativas de seus artistas mais radicais e autorais. Período de Circulação: 2016/2025. Trabalho ainda em repertório.

Fotos Anna Fernanda

UM HOMEM SEM IMPORTÂNCIA parte da carta escrita por Leo Lama a seu pai, o dramaturgo Plínio Marcos, no dia de sua morte. Através da delicada narrativa de um filho sobre a trajetória única de seu pai, a peça mescla memória individual e memória coletiva para investigar os bastidores de um dos maiores testemunhos de resistência do teatro brasileiro; traçando um duro retrato de duas gerações afetadas de diferentes formas pela ditadura civil militar de 1964.

Eleitor, Escuta!

Realizado a partir de um panfleto anarquista de 1919 escrito pelo pedagogo libertário Sébastien Faure, ELEITOR, ESCUTA! nos transporta para o cerne do debate político do ano de 1919. Nesse documento, Faure traça uma análise crítica das sociedades ao longo do tempo, questionando as noções convencionais que estão na base do nascimento das instituições democráticas que conhecemos e lançando luz sobre as limitações da democracia burguesa, por meio de um exame acurado do processo eleitoral de sua época. O solo-narrativo encabeçado pelo ator João Raphael Alves estabelece um diálogo direto com os espectadores, evocando o espírito da ação direta anarquista, destacando as complexidades e contradições das estruturas sociais e políticas que estão na base da construção dos estados modernos.

Criado como uma peça online em 2020, durante a pandemia de Covid-19. As apresentações no formato on-line foram seguidas por discussões envolventes com os espectadores. Na transposição para o palco, o trabalho conta com elementos da comedia dell’arte e o recurso da máscara teatral adicionando uma nova dimensão crítica a narrativa, além de reforçar a característica do teatro operário anarco-sindicalista como uma forma de teatro popular direcionada aos trabalhadores comuns que buscam nesta tradição teatral uma ferramenta de participação nas lutas históricas do seu tempo. Integrou a mostra O TEATRO COMO DOCUMENTO, produzida pelo coletivo En La Barca, que ocupou o Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, em maio de 2023. 

Período de Circulação: 2020 / 2023

Foto Nem Queiroz

Fotos Anna Fernanda

Entrada Franca aos Visitantes

ENTRADA FRANCA AOS VISITANTES é um desdobramento direto do projeto Lugar de Cabeça Lugar de Corpo e realizou 32 intervenções cênicas documentais na ocupação realizada no Oi Futuro entre maio e junho de 2022. Seguindo a linha de pesquisa do Teatro Documentário a intervenção teatral transita entre testemunhos de mulheres que passaram pela experiência manicomial, relatos de trabalhadoras da saúde pública e os grandes marcos históricos da Reforma Psiquiátrica brasileira para refletir sobre os rumos e os desafios da luta antimanicomial hoje no Brasil, com a criação de cenas acontecendo em diálogo direto com a exposição "Arte em Travessia", com curadoria de Marcelo Valle. Na dramaturgia, relatos de Maura Lopes Cançado, Estamira, Stella do Patrocínio e Nise da Silveira; além de um conjunto de filmes institucionais, documentários e reportagens que construíam um painel robusto da história psiquiátrica brasileira nos últimos 60 anos.

Período de Circulação: 2022

Foto Thiago Gouvêa

Fotos Bruno Peixoto

Foto Bruno Peixoto

A Casa e o Mundo Lá Fora - Cartas de Paulo Freire para Nathercinha

Fotos Bruno Peixoto

A CASA E O MUNDO LÁ FORA: Cartas de Paulo Freire para Nathercinha é a terceira criação teatral documental do coletivo En La Barca e traz a narrativa real de uma menina que, no auge da ditadura civil-militar brasileira, se correspondeu por cartas com Paulo Freire durante o período em que ele esteve exilado no Chile. A partir da obra autobiográfica de Nathercia Lacerda, a peça traz Paulo Freire à cena sob o olhar de uma menina de 9 anos. Como material documental complementar, o coletivo mergulhou na obra de Paulo Freire transformando em cena um conjunto de entrevistas, manuscritos, cartas, livros, filmes institucionais e testemunhos que colocam em debate as ideias e os métodos de Paulo Freire para a educação popular brasileira, além de mergulhar no experimento de Angicos – RN, marco do projeto político pedagógico de Paulo Freire e da luta contra o analfabetismo brasileiro, como a primeira cidade a receber o método Paulo Freire de alfabetização.

O projeto teve duas versões criadas. A primeira versão realizou dezenas de apresentações entre o Rio de Janeiro e São Paulo entre os anos de 2018 e 2020 e teve uma de suas temporadas interrompida pela eclosão da pandemia de 2020. A segunda versão foi criada especialmente para o centenário de Paulo Freire em 2021 e teve um novo mergulho nos arquivos da história de Paulo Freire e uma pesquisa de campo realizada em Angicos, com um conjunto de entrevistas realizadas com alguns ex-alunos de Paulo Freire. Os novos materiais documentais foram incorporados na encenação que deixa de ser um solo-narrativo e ganha mais uma atriz no elenco. A segunda versão teve sua estreia no antigo prédio da UNE, no Rio de Janeiro, em novembro de 2021 e, assim como a primeira versão, realiza diversas circulações pelo estado nos anos seguintes. As duas versões contabilizam mais de 80 apresentações em dezenas de teatros, escolas, universidades, sindicatos, associações e espaços culturais do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte.

Este trabalho faz parte da Trilogia Documental – A Voz dos Anônimos. Período de Circulação: 2018/2024.

Lugar de Cabeça

Lugar de Corpo

O projeto LUGAR de CABEÇA LUGAR de CORPO é idealizado pela atriz Danielle Oliveira em parceria com o coletivo teatral En La Barca Jornadas Teatrais. A dramaturgia foi feita a partir de testemunhos de mulheres que passaram pela experiência manicomial, relatos de trabalhadores e trabalhadoras da saúde mental e de pesquisa nos arquivos do Instituto Municipal Nise da Silveira. De agosto de 2017 a novembro de 2019 ocupou regularmente o Espaço Travessia, braço cultural do Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde no Instituto Municipal Nise da Silveira realizando dezenas de apresentações que reuniam usuários da rede pública de saúde mental, técnicos da saúde mental carioca, familiares dos usuários, além da sociedade civil interessada no debate sobre a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial brasileira.

O projeto teve inúmeros desdobramentos para além dos muros do Instituo Municipal Nise da Silveira, realizando também inúmeras apresentações em eventos acadêmicos que debatiam a saúde mental brasileira. Em 2020, trechos da pesquisa transformaram-se em produção audiovisual no Projeto Trajetórias, idealizado por Danielle Oliveira e Ivan Sugahara. Em 2021, o processo foi registrado em forma de publicação na segunda edição da revista JACUBA, produzida pela En La Barca Jornadas Teatrais. Em 2022, o projeto foi transformado em uma ocupação no Oi Futuro que reunia uma exposição com curadoria de Marcelo Valle, a estreia do espetáculo Uma Mulher ao Sol, capitaneado por Danielle Oliveira e Ivan Sugahara, além de dezenas de apresentações da intervenção cênico-documental ENTRADA FRANCA AOS VISITANTES, produzida pelo coletivo En La Barca Jornadas Teatrais. LUGAR de CABEÇA LUGAR de CORPO parte da Trilogia Documental – A Voz dos Anônimos.

Período de Circulação: 2017/2022

Fotos Marcio Cursino

Foto Dalton Valério

Antônio de Gastão - Memória é Trabalho

O projeto é a continuidade da pesquisa de solos narrativos iniciada no primeiro ciclo do coletivo En La Barca e conta a história do artista popular Antônio de Gastão, pescador, poeta, escultor, músico, bonequeiro, contador de histórias que viveu em Cabo Frio ao longo de quase todo o século XX. Dentro da tradição do teatro documentário, mergulhamos em um vasto material que incluiu entrevistas, artigos, ensaios, vasto material iconográfico e teses de mestrado e resgatamos para a cena teatral uma abordagem da história de Cabo Frio pouco conhecida. O projeto surgiu depois de uma pesquisa de 6 meses realizada nos arquivos do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no Rio de Janeiro. A base dramatúrgica do projeto foi o livro Antônio de Gastão – Pescador de Cabo Frio, integrante da série O Artista Popular e seu Meio, um projeto do Ministério da Cultura que vigorou durante os anos de 1980 através da Funarte e do Instituto Nacional de Folclore, atual Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Na obra, realizada a partir de pesquisa de Ricardo Gomes Lima e Amena Mayall, a história de Cabo Frio é narrada mostrando os inúmeros personagens populares que a história oficial esconde. O livro foi lançado fiel ao desejo do velho artista popular. Um rico relato em primeira pessoa narrando a história de uma terra em grande transformação sob o ponto de vista único de um de seus artistas populares mais genuínos.

O estudo da relação Memória – Teatro – Cultura Popular e sua importância na defesa da identidade cultural de territórios socialmente vulneráveis influenciou a criação de outros projetos similares no resgate da atuação de artistas e ativistas populares da Região dos Lagos. A primeira edição da revista Jacuba, dedicada ao artista popular Gabriel Joaquim dos Santos e os documentários em audiovisual UM CERTO SENHOR GABRIEL e ROSA, todos projetos do coletivo En La Barca, são desdobramentos diretos dos caminhos abertos por Antônio de Gastão. O projeto já realizou 51 apresentações em museus, escolas, universidades, espaços culturais de resistência e em praias e praças do litoral fluminense. O trabalho faz parte do primeiro ciclo de pesquisas sobre a tradição do Teatro Documentário realizado pelo coletivo En La Barca que gerou a criação de três projetos teatrais entre os anos de 2017 e 2018. Os três primeiros projetos teatrais deste período fazem parte da TRILOGIA DOCUMENTAL – A VOZ DOS ANÔNIMOS.

Período de Circulação: 2017 / 2025. Ainda em repertório.

Foto Manuela Paiva Ellon

Foto Felipe Ayres

Fotos Pablo Vergara

Estudo para

Pequenos Mistérios

Projeto que iniciou a trajetória do coletivo En La Barca, ESTUDO PARA PEQUENOS MISTÉRIOS é a adaptação de um dos contos que fazem parte de O LIVRO DOS PEQUENOS MISTÉRIOS, livro escrito pelo ator e diretor Bruno Peixoto. Lançado em 2012, o autor investiga o universo feminino, em uma série de cinco contos, a partir da ótica do realismo fantástico. Em 2014, junto com a atriz Anna Fernanda, iniciou um processo de pesquisa de linguagem para adaptar para o teatro um dos contos que fazem parte do livro – A MULHER QUE CONVERSAVA COM A LUA.

Através da fusão teatro e literatura, o solo narrativo capitaneado pela atriz e pesquisadora Anna Fernanda narrava a história de uma mulher que cria uma língua própria para conversar com a lua. O projeto surgia a partir de uma agenda de treinamentos físicos intensa que buscava um diálogo entre os fundamentos do trabalho físico de Roberta Carreri, do Odin Teatret, a práxis do Grupo Moitará e a pesquisa da biomecânica de Meyerhold; refletindo a busca do próprio coletivo por uma linguagem própria.

O solo narrativo teve uma carreira de 2 anos realizando dezenas de apresentações em mostras e festivais nacionais e internacionais. A pesquisa sobre o universo feminino e a busca de uma linguagem própria geraram outros dois projetos, também no formato de solonarrativo: SOLOS - SUBSTÂNCIA FEMININA e MANIFESTO DA MENINA SEM NOME. Os projetos são fruto de dois anos de estudo e treinamento continuado sobre o corpo do ator como discurso narrativo na cena; tendo como eixos de pesquisa os princípios da biomecânica de Meyerhold e uma forte influência da obra de Pina Bausch. Nestes dois projetos, o recurso do depoimento pessoal das atrizes pesquisadoras, também foi incorporado a dramaturgia. Já era uma primeira aproximação com os princípios do Teatro Documentário.

Período de Circulação: 2014 / 2016.

Foto Mariana Ricci

Foto Letícia Araújo

Foto Letícia Araujo